SOBRE LIVROS E ÍNDIOS

Semana passada Caicó sediou mais uma Feira do Livro. Compromissos impediram-me de realizar um passeio pela Ilha de Santana e com certeza encontrar amigos detentores de apetites por uma boa leitura. Soubera que o cantor e compositor Lobão estivera presente e com Suru bateram um belo papo cabeça! Vasculhei os blogs da cidade e região e parecera que o evento não significara muito para os fazedores de notícias. É, livro não dá muito ibope. Livro não fuxica. Livro não se candidata a cargo eletivo. Fiquei matutando todo o fim de semana e não encontrei respostas para a ausência de falatórios nos “the day after”!

Hoje (26 de setembro), ainda variando, observei uma criança que sua atenção fora seduzida para uma poção de lixo amontoado na rua. Tinha os olhos meio puxados e parecia um indiozinho! Vi que se dirigira em direção a uns caixotes cheios de livros ali jogados. Apanhou um, folheou desordenadamente como a indicar que não sabia ler. Pegou outro, demorou-se um pouco mais naquele, permitindo-me uma aproximação sem que percebesse. O livro era cheio de gravuras coloridas! Seus olhos se encheram de um brilho diferente e se presumira haver satisfação no que vira! Fotografias de animais que jamais conhecera e paisagens diferentes da nossa. Ele o levou para casa e deve ter mostrado a seus irmãos. O tempo que passou olhando as imagens contidas naquelas junções de páginas fê-lo permanecer um pouco mais com seus parentes, fê-lo esquecer as ruas. Quando aquela criança aprender a ler e escrever e tiver mais oferta de leitura além do lixo, com certeza será um ser humano mais feliz. É essa a magia dos livros!

Livros e índios passei a refletir. A lembrança do índio materializada nas feições da criança. Livros e índios, esses dois personagens de pouca importância dada por nós brasileiros que deveria se constituir como um povoar de nosso cotidiano. Livros e índios, para qualquer nação do mundo, referir-se aos seus primeiros habitantes e ao caminho do conhecimento se constitui em manifestação obrigatória da parte de qualquer cidadão.

Caetano Veloso, em uma de suas músicas, também intitulada “Livros”, começa, referindo-se ao universo de palavras guardadas que tivemos e ainda temos contatos, assim: “Tropeçavas nos astros desastrada/Quase não tínhamos livros em casa/E a cidade não tinha livraria/Mas os livros que em nossa vida entraram/São como a radiação de um corpo negro/Apontando para a expansão do universo/Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso/(E, sem dúvida, sobretudo o verso)/É o que pode lançar mundos no mundo”.

É, continuamos quase sem livros em nossas casas e em nossa cidade não há tantas bibliotecas...

Em Caicó quase que não há bibliotecas infanto-juvenis. As poucas que há são bastante saqueadas em função da pouca oferta em relação à demanda. E se há livros, poucos se reportam à história do índio em nossa cidade. No Seridó há informações de alguns remanescentes em Acari e Currais Novos. Mas é necessário que os ainda restantes sejam preservados tais como dissera Caetano, desta feita na voz de Zé Ramalho, um trovador de aqui perto de nós quando aduzira: “Um índio preservado em pleno corpo físico/Em todo sólido, todo gás e todo líquido/Em átomos, palavras, alma, cor, em gesto e cheiro/Em sombra, em luz, em som magnífico”.

Poucos livros e poucos índios. Até quando poderemos ainda tê-los entre nós, mesmo que seja para “Encher de vãs palavras muitas páginas/E de mais confusão as prateleiras...”.

Se é verdade que todo dia “é dia de índio”!


Gilberto Costa

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