MEU GOSTO PELA POLÍTICA

Meu pai, João Pedro da Costa ou “Seu João Avelino” ou “Seu João das Vacas” ou “Compadre João” como muitos o chamam, apesar de sua discrição e aparente timidez, sempre gostou muito de política. Mesmo trabalhando a exaustão (antes de se tornar detentor da posse de meia dúzia de cabeças de gado e com isso aliviar as necessidades da família), laborava como bóia fria e mesmo assim encontrava forças e ânimos para assistir aos comícios e se deliciar com os discursos dos oradores. Dinartista, tinha preferência pelas atividades políticas dos candidatos ligados ao “Velho Senador do Coração do Povo” que dizia serem os que falavam mais bonito. E sempre me levava a tiracolo.

Apesar de ainda ser uma criança, tive a oportunidade de fazer parte dos calorosos debates nos períodos pré-eleitorais. Não somente em comícios, mas em encontros de adultos amigos de meu pai. Como ele me carregava para onde ia, estava a escutar o que diziam sobre um e outro candidato. Sobre o partido e sobre quem apoiava fulano e/ou sicrano. A história de cada um deles. As famílias. E era como se já fosse um deles! E aquilo me envolvia de um modo especial e despertava em mim uma inquietude que só viera a compreender entre os dezesseis e vinte anos.

Batíamos todos os quadrantes da cidade à procura de um comício porque não havia divulgação dos eventos políticos como ocorre hoje em dia. Saíamos perguntando a um e a outro por onde tinha passado a passeata para nos juntar a turma de conhecidos e assim cumprir nossa rotina. E uma das campanhas que mais me marcou foi a de 1968. Tinha apenas oito anos de idade, mas já dava para entender um pouco do que se sucedia na política em Caicó/RN. A morte de Carlindo Dantas era um dos assuntos mais tratado pelo candidato Francisco de Assis Medeiros, o “Chico Burra Cega” ou “Doutor Chiquinho”, brilhante orador!

Meu pai se postava bem próximo do palanque e, aproveitando sua estatura acentuada, colocava-me em sua cacunda para que eu tivesse uma visão privilegiada do evento e pudesse escutar melhor os discursos. A entonação da voz... Os gestos... As provocações ao adversário... As histórias contadas... Era simplesmente divino ouvir aquela bela oratória de Chico Burra Cega!

Doutor Chiquinho, um ainda jovem advogado, produziu uma das campanhas mais criativas e emocionantes de que tenho conhecimento, considerando à época. Sua estratégia mexia com nosso emocional e produzia multiplicadores no transcorrer da campanha. E difícil era dormir de imediato após escutar aqueles belos discursos! Ficava reprisando fala por fala tudo o que ele tinha dito e sonhava um dia subir num caminhão e falar para uma multidão de pessoas e dizer um monte de coisas bonitas!

Em 2004 tive a oportunidade de relatar a emoção de um garoto de oito anos participando ativamente de uma campanha memorável ao seu principal ator. Chico Burra Cega me contou detalhes de como planejou sua estratégia de marketing e passei a ter conhecimento de fatos até então despercebidos de muitos e que foram cruciais para a sua vitória. Posso dizer que gozo de sua amizade e sempre que há congruências em nossas agendas nos encontramos para trocar espantos na “calçada da cultura”, casa de seu tio Tarcísio e Dona Celita.

Seu João das Vacas e Chico Burra Cega me despertaram para a política. E sonho que façamos política como as macieiras produzem maçãs!

Gilberto Costa

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