DEUS ME LIVRE


chega à casa de um bisneto do “Véi Mané Pereira Troncho”, por volta das 08h00min procurando trabalho. O seu dono, desconfiado do aspecto do chegante, foi-lhe logo avisando que ali só tinha emprego para “os de nóis, que ocês de fora qui se danem”! “Qui aqui no Siridó num tem vagabundo, só argum primo de cão qui vive de vadiage”! O Danisco, vendo que a coisa estava ficando da cor do inferno, tratou logo de ser transparente e se identificar. Disse ao Senhor Pereira que era o Cão! O Sapirico! O Satanás! Lúcifer! Enfim um Danisco formado em pedagogia com doutorado na Faculdade do Braseiro! Isso animou Seu Pereira que de pronto se dobrou as resistências iniciais e ofereceu emprego ao cão. Acertadas as formalidades, que se constituía em simplesmente o Danisco fomentar o lazer de seu filho, foi-se para sua labuta cotidiana e os deixaram a sós.

O moleque, logo de início, chamou seu professor para jogar futebol com bola-de-meia. Em dez minutos de pelada o cão teve esfolado todos os dedos de seus pés! Em seguida lhe propôs soltarem corujas. E o cão se enrolou todinho, além de levar uns três tapa-olhos tentando controlar o brinquedo. O moleque ria da inexperiência do infeliz! Trouxe-lhe um pião e o cão não acertou uma só lapada dentro da roda, além das seguidas linhas frouxas! Veio um breque, mas o Danisco não equilibrou a roda! Veio um rodo... Veio um carro de lata... Veio um triângulo... Veio uma peteca... Veio um saco de bilas e nada, o cão não conseguia acompanhá-lo em suas brincadeiras.

No jogo de bila, teve dificuldades de manusear o tibelo. Com o triângulo, sofreu um acidente, furando o próprio pé e assim outros sucedidos aconteceram! Vendo o desânimo do cão, o menino convida-lhe a conhecer outras formas de brincadeiras mais fáceis, como “Um Dois Três Se Colou”... “Rabujo”... “Garrafão”... “Galinha Gorda”... Nada, o moleque conseguia vencê-lo em todas!

Exausto, mais ou menos às 11h00min, chama o menino a um canto para uma conversa. Pergunta-lhe onde acumulou tanta energia e como soube dessas coisas todas que não aprendeu em seus longos anos de estudos no inferno. O menino lhe disse não saber de quase nada e que era muito lerdo em relação ao seu pai, este sim um sabedor de coisas e dotado de muito vigor físico. Após a prosa, vendo o olhar desolado do Danisco, o menino chama-lhe para uns cangapés no Poço de Santana antes do almoço. O cão agradece-lhe e diz: “Deus me livre”!

Fora a primeira vez que o cão falou o nome de Deus.


Gilberto Costa

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