Trabalhador quer mais tempo livre

Se a jornada de trabalho fosse reduzida, mais de 60% dos trabalhadores dedicariam o tempo livre a outras atividades. Essa é uma das constatações do estudo do estudo ''Sistema de Informações de Percepção Social Trabalho e Tempo Livre'', divulgado nesta quarta-feira pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea). As informações, colhidas em âmbito domiciliar, por meio de questionário com 64 questões, versaram sobre o tempo gasto no trabalho e sobre seus impactos na vida dos entrevistados. Mais de um terço dos entrevistados (37,7%) sente que o tempo livre vem diminuindo no período recente, por conta do tempo diariamente gasto com o trabalho remunerado. De maneira mais específica, eles afirmam que isso ocorre por causa do excesso de atividades exigidas no trabalho (18,0%), devido à obrigação de levar atividades laborais para realizar casa (5,3%) e por conta do maior tempo gasto com transporte para o trabalho (4,8%), por causa da maior exigência de qualificação para o trabalho (3,7%), por causa de ter que estar de prontidão para emergências no trabalho (2,6%), entre outras razões. Ao comparar os que trabalham até 44 horas por semana (que é a jornada legalmente definida no país) e os que trabalham mais que esse número, nota-se que o segundo grupo tem chance 1,8 vezes maior de relatar que seu tempo livre vem diminuindo. Ao contrastar os que habitam as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e os que moram no Sul e Sudeste, os últimos têm chance 1,6 maior de mencionar que seu tempo livre vem diminuindo, devido ao tempo gasto com o trabalho. O estudo mostra ainda que 45,4% dos entrevistados têm dificuldade para se desligar totalmente do trabalho ao fim da jornada diária. Entre as razões apontadas estão a necessidade de ficar de prontidão para fazer alguma atividade extraordinária (26,0%); planejar ou desenvolver alguma atividade de trabalho usando a internet ou o telefone celular (8%); ou que precisam aprender mais sobre o próprio trabalho (7,2%). Há ainda quem informe ter outros trabalhos remunerados (4,2%). O Ipea entrevistou 3.796 pessoas que moram em áreas urbanas das cinco regiões do país, todas com mais de 18 anos de idade e que exerciam alguma atividade remunerada na semana de referência da pesquisa. Para 39,5% dos entrevistados, o tempo dedicado ao trabalho compromete a qualidade de vida. Para este grupo, o trabalho provoca cansaço e estresse (13,8%); compromete as relações amorosas e a atenção à família (9,8%); prejudica estudo, lazer e práticas esportivas (7,2%); afeta as relações de amizade (5,8%) e gera perda de motivação para o próprio trabalho (2,9%). O estudo mostra ainda que 63,8% dos trabalhadores usariam o tempo livre com a redução da jornada para atividades não ligadas ao trabalho, enquanto que 36,2% não sentiriam diferença porque cumprem jornada de trabalho superior as 44 horas semanais previstas na legislação. Entre os que usariam o tempo livre para outras atividades, 24,9% se dedicariam à família e às tarefas de casa; 12,3% dariam prioridade aos estudos; 12,3% usaria o tempo livre para descansar e 5,7% aproveitariam esse tempo para se divertir ou praticar esportes. Em relação à possível mudança na jornada de trabalho (redução de 44 horas semanais para um número inferior), 36,2% afirmam que não perceberiam diferenças em caso de mudanças. Os demais entrevistados (63,8%), que perceberiam diferenças em suas vidas com a redução de jornada distribuem-se pelas seguintes alternativas de uso do tempo livre que surgiria com tal redução: 24,9% usariam esse tempo para cuidar da casa e da família; 12,3% o utilizariam para estudar; outros 12,3% o destinariam para descanso puro e simples; e 5,7% o dedicariam à prática de esporte/recreação. Outros compromissos Menos de um terço dos entrevistados (29,7%) consegue assumir outros compromissos regulares para além de seu trabalho remunerado. Entre os que conseguem assumir, destacam-se as atividades de devoção religiosa (7,1%), de realização de estudos (5,9%) e de treinamento esportivo (5,9%). Os entrevistados que conseguem desenvolvê-las destinam 10,7 horas semanais em média (sendo que a mediana corresponde a 7 horas semanais). Comparando quem tem até ensino médio incompleto e ao menos nível médio completo, verifica-se que o segundo grupo tem chance 1,7 vezes maior de conseguir assumir outros compromissos regulares. E contrastando os entrevistados que têm renda familiar per capita de até R$ 400 mensais e os que têm renda acima desse valor, percebe-se que os últimos têm uma chance 1,5 vezes maior de conseguir se dedicar às religiões, aos estudos, aos esportes. Reações Quase a metade dos entrevistados (48,8%) apresenta reações negativas quando necessita dedicar parcela de seu tempo livre a atividades próprias do trabalho remunerado. Entre essas reações negativas, estão conformidade por precisar manter o trabalho (36,7%), tristeza por não sentir prazer no trabalho (5,1%) e revolta por achar que o tempo livre deveria ser dedicado a outras atividades (que não o trabalho, 7%). Ao comparar os trabalhadores subordinados e os autônomos, nota-se que os primeiros têm uma chance 2,1 vezes maior de reagir contra esse uso do tempo livre. Ao contrastar os que estão há menos tempo de vínculo no trabalho (até 36 meses) e os que estão há mais que isso, os primeiros têm chance 1,4 vezes maior de reagir contra o uso do tempo livre para trabalhar. E os trabalhadores com até 38 anos têm chance 1,4 vezes maior de rejeitar o uso do tempo livre para trabalhar que os com 39 anos de idade ou mais. Troca de trabalho Apesar de uma parcela oscilante (entre 30% e 50%) dos entrevistados considerar que o tempo dedicado ao trabalho remunerado afeta negativamente seu tempo livre, com todas as consequências em termos de redução da qualidade de vida (geração de cansaço e estresse, comprometimento das relações familiares, impossibilidade de realização de atividades etc.), uma parcela inferior (21,5%) dos entrevistados afirma efetivamente pensar em trocar de trabalho por causa do tempo que gasta com ele, avaliado como excessivo. Comparando aqueles com até 38 anos e aqueles com 39 anos de idade ou mais, verifica-se que os primeiros têm uma chance 2,0 vezes maior de cogitar trocar de trabalho. Contrastando aqueles que têm renda familiar per capita de até R$ 400 mensais e os que têm renda acima desse valor, percebe-se que os primeiros têm uma chance 1,7 vezes maior de pensar em trocar de trabalho. Contrastando os que possuem menos tempo de empresa (até 36 meses) e os que possuem mais que isso, observa-se que os primeiros têm uma chance 1,6 vezes maior de pensar em trocar de trabalho, por conta do tempo que se gasta com ele. Assim, a pesquisa mostra que, apesar da percepção comum de que o tempo de trabalho afeta significativa, crescente e negativamente a qualidade de vida, somente um quinto dos entrevistados afirma realmente pensar em trocar de ocupação por conta disso. Trocar de ocupação ainda parece ser algo impactante para o cotidiano da população, mesmo quando a ocupação atual, com seu tempo de trabalho excessivo, prejudica boa parte do cotidiano. De acodo com o estudo, apenas os trabalhadores mais jovens, com menor renda e com menor tempo de vínculo parecem considerar menos impactante a troca de ocupação, com todos os efeitos desorganizadores que ela provavelmente tem para sua vida cotidiana. Da Agência Brasil

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