A HISTÓRIA DE FOGO PÁLIDO

Segundo Turno das Eleições Presidenciais de 1989. A primeira após a mais violenta interrupção das liberdades democráticas na História Republicana Nacional. Havia uma fome de voto em muitos e o desejo de votar pela primeira vez manifestada por uma multidão em tenra idade. E na multidão havia um grupo de jovens sonhadores e deslumbrados! Um punhado de meninas e meninos, como éramos chamados na cidade, cheios de sonhos e ousadias! Fazíamos parte da esperança que tinha Lula como candidato. O Lula - lá empolgante! Aquele refrão mexia com todos nós! Era como o sangue circulando dentro de nossos sonhos! Éramos impelidos a abraçar cada vez mais a crença na vitória. E nossos olhos exibiram um hiato de êxtase naqueles poucos mais de trinta dias que transcorreram o pós 15 de novembro! O voto ainda não era eletrônico. Tínhamos que esperar alguns dias. Contar um a um os votos em todos os Colégios Eleitorais de nosso imenso Brasil! E não havia celular. Era o telefone fixo da sede do partido e os vários rádios a pilhas no pé do ouvido de cada militante! Estávamos um bom número no nosso ponto de encontro natural, a Praça José Augusto. E lá pelo meio da semana pós domingo 17 de dezembro o Jornal Nacional anuncia Collor como o novo presidente! Abraços! Choros! Todos os gestos solidários mútuos possíveis! Alguém saca a carteira de Hollywood do bolso e pergunta quem dispõe de fogo. Eu, que nunca fumei, mas sempre dispusera de uma caixa com fósforo comigo acendo-lhe o cigarro! Uma militante ri e comenta: “estamos parecidos com este fogo pálido”! Aquilo foi inspirador! Veio-lhe à mente uma cena do filme Lawrence da Arábia! Saio à procura de um pedaço de papel no meio-fio da calçada da praça. Encontro um saco vazio de pipocas amassado e besuntado de manteiga. Abro-lhe cuidadosamente e escrevo os versos de Fogo Pálido! Nesta quarta-feira, último dia de fevereiro bissexto, encontro Fogo pálido num lugar qualquer da estante, servindo de marcador de páginas ao livro Noites do Sertão, de Guimarães Rosa. Fogo Pálido resistira à morada na beira do Rio Seridó! Resistira à estadia na casa dividida com Rangel, Levanildo e Piúba, próximo ao antigo Vaporzão! Resistira às muitas mudanças domiciliares e se encontra aceso na Rua Manoel Dantas! Talvez porque se propusera residir no coração. É no coração onde se guarda os belos sonhos! Gilberto Costa

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