Adoção do Enem pela UFRN provoca temor e críticas

A possibilidade de mudanças nas regras do vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), destinando 50% das vagas oferecidas para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), está preocupando a muitos estudantes que estão se preparando para as provas do exame deste ano. A mudança é uma proposta da Comissão Permanente do Vestibular (Comperve), mas ainda depende de aprovação na reunião do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe) da UFRN, prevista para o final de abril e início de maio. Segundo Magda Pinheiro, presidente da Comperve, a proposta foi apresentada desde o resultado do vestibular 2012 e durante o Programa Grandes Temas da TV Universitária, transmitido há poucos dias. Hoje, o assunto voltará novamente a ser discutido durante reunião da Comperve com escolas e educadores para apresentação de dados do último vestibular. Segundo Magda, a UFRN está aderindo ao Enem gradativamente até chegar à totalidade como já acontece em 22 universidades federais do país "A princípio, a UFRN destinou seis cursos para o Enem, ano passado o número aumentou para 13 cursos e este ano existe uma grande possibilidade de aumentar a democratização do acesso à universidade federal, mas isso depende do Consepe", avisa a presidente. Discordância O professor Carlos André, do Colégio e Curso Overdose, vê com preocupação essa mudança. Ele relaciona pelo menos três pontos que prejudicariam o estudante potiguar que se prepara para o vestibular de cursos considerados difíceis. Para ele, a adesão ao Enem implica em nivelar por baixo a qualidade do aluno que entra na nossa universidade. "Do ponto de vista de análise do vestibular, a prova de Natal é moderna, bem elaborada, confiável. Já a do Enem deixa a desejar em vários aspectos", disse Carlos André. Para ele, trocar o vestibular pelo Enem é praticamente um retrocesso aos anos 80 quando a prova era apenas objetiva. O segundo problema relacionado pelo professor é que "enquanto todo mundo confia no Vestibular queo estado todo confia, a gente partiria para um exame que o Brasil inteiro não confia. Ninguém garante a segurança do Enem que ano após ano vem sofrendo furos em um país gigantesco como o Brasil". Já no ponto de vista do aluno, Carlos André argumenta que como o Enem é uma prova nacional divide as vagas com alunos de outros estados, como os que vêm do eixo Sul-Sudeste, e que terminam conseguindo boa parte das vagas do curso de medicina, o mais procurado. "O nosso aluno é muito bom, mas vai concorrer também com alunos bons de outros estados. Por que temos que dividir as nossas poucas vagas com quem vem de fora?", questiona ele. O professor cita o que vem acontecendo com o estado do Acre após adotar o Enem. "Esse ano, na primeira chamada para o curso de Medicina não passou ninguém do próprio estado, todo mundo era de fora e nenhum dos 40 alunos aprovados fez matrícula. Numa segunda chamada, 38 alunos eram de fora e apenas 2 do Acre. Os 38 de fora novamente não fizeram matrícula e o resultado é que o ano letivo não começou porque até agora não conseguiram fechar a turma porque os alunos do próprio estado foram deixados para trás". "Modelo vai privilegiar quem estuda pouco" A reportagem entrevistou alunos do curso de medicina e constatou a preocupação deles com as mudanças previstas para este ano. Para o estudante Victor de Oliveira Bezerra Gusmão, 20, que este ano vai tentar o seu quinto vestibular, o maior problema é a falta de credibilidade do Enem. "As frequentes ocorrências de falhas, má-elaboração e roubo de provas são o suficiente para desacreditar na lisura do exame", diz ele. Outro aspecto abordado pelo aluno é que o exame vai privilegiar a quem estuda pouco. "O aluno que estuda muito já é naturalmente prejudicado pelo sistema de argumento de inclusão da UFRN e agora vai ser mais ainda pelo baixo nível das provas do Enem". O estudante argumenta que se forem confirmadas as mudanças, a aprovação será mais fácil ainda para o aluno que tem direito ao argumento de inclusão, "bastando conseguir cerca de 700 pontos nas provas fáceis do Enem. Sem o argumento seria muito difícil conseguir uma vaga no curso de medicina com essa pontuação", aponta Victor. Outros alunos indignadoscom as possíveis mudanças são Caio Graco Granjeiro de Queiroz, 17, e Danilo Flávio do Nascimento, 20, que tentam medicina pela terceira vez. "As 90 questões do exame mostram que esse formato não é um modo de avaliação, mas uma prova de resistência. Selecionam pessoas resistentes e não aquelas capacitadas para cursar, tornando uma prova muito cansativa e de pouca consistência. O vestibular é mais especifico e bem melhor para quem quer estudar com afinco, principalmente em cursos difíceis". Diário de Natal

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