PARA UM BLUES INICIANTE

Sim, fui um catador de lixo! Mexi no lixo, como tantos que procuram alguma coisa de valor desprezada por quem muito tem. E na minha catação, encontrei um VIALEJO! Depois de limpo nas correntezas do Rio Seridó, onde nossa casa se encontrava margeada em sua esquerda, passei a soprá-lo. O som que saía era meio fúnebre e meu pai o chamava de “som funeral”! Mas eu gostava e tocava interessado somente em mim, alheio às observações acerca da sonoridade que diferia do forró, da valsa, do tango, da toada, enfim de todos os sons ouvidos no rádio de oito elementos e da rebeca de Seu João das Vacas! Hoje sei que meu som se tratava de um BLUES! E no meu caso um Blues saído do lixo! Um Blues de um grito de estridência em ritmo de suavidade, que na minha pouca idade, tive oportunidade de soprar num pedaço de LUXO encontrado no LIXO! O “SOM FUNERAL” que me criava um mundo libertador em harmonia que não sabia por que saía de dentro de mim! Era um som fantástico e fazia me isolar, para poder senti-lo em mim mesmo. Aquele som bruto, nascido como a própria vida, era-me estranho, mas trazia-me encantamento! Encantava-me por imaginar ser eu seu criador! Mas, numa madrugada, acordei e não encontrei meu VIALEJO... Ele sumira na repentina cheia do nosso rio. Quando senti o frio das águas no fundo da minha tipóia de rede, a primeira reação foi procurar meu amigo inseparável. Ele se tinha ido... E nem sequer se despediu de mim! Não o culpo, uma vez que não teve oportunidade de beijar-me de uma forma diferente do apenas convencional roçar de lábios! Imagino que ainda se encontre vivendo em algum abrigo de desaguação do nosso Seridó! Tomara que ainda entre lábios melancólicos! E nos braços de Beatriz! Um vialejo que não tem a sorte de Dante é um ser incompleto. E expele melancolicamente um canto funeral... Mais ou menos assim, nos meus sopros juvenis: Eu desejo um cálice No palácio de Alice. Alguém me disse, entre Nobreza não faz sentido. O meu lugar é dos Deuses Bem rogados. Minhas cobertas Cobrem os gritos afogados! Na catedral, está lá o meu Socorro. Eu desço o morro Para um blues iniciante! Minha comédia é divina Para Dante! Adeus menina Lá se vai seu viajante... Gilberto Costa

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