O GATINHO DE BRÍGIDA
O relógio marcava mais ou menos 14h00min naquela tarde de 20 de janeiro de 2012, uma sexta-feira. O sol estava de torar, como gostamos de nos referir ao Astro Rei em dia de quentura além do normal. E ali, no cruzamento da Manoel Dantas com Senador José Bernardo, próximo ao Sítio de Nevinha, deparei-me com uma garotinha de seus seis anos, cabelos loiros e cacheados, olhinhos de cores de candura distante!
A testinha suada do calor prendia seus belos cachinhos e lhe davam uma candura angelical! Quando me viu, foi logo dizendo: “Meu gatinho fugiu. Não sei onde ele se encontra. Você viu meu gatinho por aí”? Não respondi de imediato. Demorei-me alguns segundos para fazê-lo. Quando tentei ajudá-la, o que saiu de mim foi um “ele se encontra na Capelinha de São Sebastião, no Serrote da Cruz. Foi rezar e se preparar para a procissão”!
Ela me sorriu feliz e disse que seu gatinho deveria estar com sua avó, que também teria ido rezar na Capelinha de São Sebastião! Engoli em seco. Não falei uma palavra sequer e tentei segurar o choro. Por algum momento a garotinha esqueceu seu gatinho e se fixou em mim, fitando-me sem entender nada. Devo ter alterado minhas feições. Alguma lágrima deve ter escapulido. Mas com esforço consegui sorrir em retribuição. Afinal tinha, por inspiração, devolvido o encanto àquela criança! Seu gatinho não se tinha perdido. Logo voltaria para seus braços! E ela perguntaria como teria sido a festa de São Sebastião. Se ele teria comido picolés! Se teria comido algodão doce e pipocas! Se teria brincado com bolas de assopro! Se teria andado na roda gigante! E o gatinho de Brígida esfregar-se-ia em seus cachinhos dourados e ronronaria!
Segui meu caminho de volta ao INSS. Já próximo à casa de Tarcísio e Celita, na Rua Celso Dantas, arrisquei-me olhar para trás. E lá estava a garotinha parada, acompanhando meu deambular e sorrindo! Foi o sorriso mais doce que já presenciei! O sorriso de gratidão! O sorriso de recuperação da estimação dela! O resgate de seu encantamento!
Parei em frente à Igreja do Rosário e fiz um pedido a Nossa Senhora. Pedi para que o gatinho de Brígida voltasse de verdade para o seu convívio. Crendo no feito, senti-me aliviado e redimido de meu pecado de tê-la feito acreditar que seu animalzinho se encontrava num lugar que não tinha certeza que estivesse. Às vezes acontece, mas não foi por mal.
Gilberto Costa
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