O OLHAR HUMANO

Dia desses estivera caminhando na praia. E meus olhos viram o que já deveriam ter percebido antes. Meu olhar, fixo nas pegadas dos que a sua frente deambulavam, testemunhara que logo eram apagadas pelas águas do mar antes de serem alcançadas. Gesto simples, mas que pouco praticado por nós humanos. É uma pena porque o olhar humano é o único capaz de verdadeiramente enxergar e sentir. E como é gostoso depositar o olhar sobre as flores dos mandacarus no Sertão! Imagina-se como um verdadeiro milagre um jardim aqui e acolá de cardeiros e xiquexiques em contrastes com a caatinga em repouso, parecendo como se estivesse de luto! E os muçambês nas vargens dos barreiros! São belas suas flores e não as notamos. De manhã cedinho, acordamos e pegamos água no reservatório e nos fixamos somente no afazer cotidiano. Não olhamos de lado e nem percebemos as dezenas de Rolinhas Caboclas Pé de Anjo embaixo dos muçambezais alimentando-se de suas sementes. Tomávamos banho no Poço de Santana e não dirigíamos nosso olhar para os cardumes de piabas. E muitas delas a nos rodear quando descansávamos um pouco das braçadas em suas águas! É assim. Não desfrutamos muito do que de mais divino nos foi ofertado. Nosso olhar! Não olhamos para a lua e nos encantamos com seu tamanho e brilho especial, quando se exibe em fase cheia! Não olhamos para o sol para sentir nossas pupilas se dilatarem! Não olhamos para as estrelas para distinguir a bela Dalva! E esses gestos deveriam ser obrigatórios por sermos os únicos capazes de deslumbramentos! Anatole France, certa feita dissera que nunca vira seu gato de estimação contemplando as estrelas nem em estado de oração. É verdade. Na minha vida tivera oportunidade de contato permanente com galinhas, vacas, ovelhas, cabras, porcos! Não me lembro de quando jogava milho para as galinhas ao menos elas olharem para mim ou para outra coisa que não fossem os grãos amarelinhos! Quando tangendo as vacas pelos cercados, não me lembro de vê-las olharem de lado ou par cima. Seus olhares se fixavam única e exclusivamente no pasto. Lembro sim das muitas vezes que movido pelo encantamento provocado por um casal de canários, perdia o rebanho de vista e era censurado por meu pai, que me chamava de lesado! Estou neste momento num apartamento localizado no Retão do Manaíra, em João Pessoa. Escrevo ao Notebook ao lado de uma janela. Chove. Sei porque escuto o barulho dos pingos. Estava fixo na tela em branco ávido para enchê-las de palavras! E já estava me parecendo com uma das vacas de Seu João no pastoro. Páro! Olho para a Favela no Bairro São José. Distingo pessoas demonstrando aperreio com a chuva repentina. Eles estão recolhendo suas roupas que estavam secando nos varais. É uma rotina que ocorre com muitos de nós e não nos damos conta porque evitamos olhar. E se não olhamos não veremos! E se não olhamos não sentiremos! E se olhamos não nos deslumbraremos! “Olhai como crescem os Lírios do campo. Eles não trabalham nem fiam”! E já faz algum tempo que Jesus, ainda proferindo seu primeiro discurso alertava: “Nem Salomão com toda sua magnificência se vestiu como qualquer deles”. Olhai a sua esquerda ou a sua direita! Não importa que estejais no mais moderno escritório. Quem sabe uma mariposa se encontre construindo uma casa próximo àquele quadro de Leonardo da Vinci, fixado na parede e que a muito não é olhado. De volta o sorriso da Mona Lisa! Gilberto Costa

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