Livro "Os açudes dos sertões do Seridó" será lançado hoje em Natal

Em Açudes Dos Sertões, Oswaldo Lamartine usa seu garimpo linguístico para detalhar a história sobre hidrografia sertaneja. Parte da época colonial, passando pelas secas do século XIX, até a lista dos açudes públicos construídos em cooperação com o DNOCS até 1972. Consta que no começo do século XX, o Seridó era ornado por mais de 700 açudes. Hoje em dia, conta com menos de 30% disso. Foi sobre esse sertão do passado, "o sertão do nunca mais", que Oswaldo Lamartine de Faria sempre escreveu. Um dos seus clássicos acaba de ser reeditado pela editora Sebo Vermelho, "Os açudes dos sertões do Seridó", e será lançado neste sábado, a partir das 9h, no sebo da Cidade Alta. É o oitavo livro de Lamartine a ser reeditado pela casa, em edição fac-similar. O livro ganhou uma orelha de Vicente Serejo, mantendo todo o cuidado original que o escritor sertanista costumava dar à sua prosa. "Os açudes" foi lançado originalmente em 1978. Até pouco tempo havia apenas uma reedição, de 1981, compondo a coleção "Sertões do Seridó", uma reunião de cinco livros de Oswaldo Lamartine editada pelo Senado Federal. Acabou rapidamente, tornando-se um artigo raro. Daí a importância adicional do relançamento feito pelo Sebo Vermelho. "Os livros de Oswaldo possuem a mesma importância dos de Câmara Cascudo. São ricos na essência e podem cativar os mais variados tipos de leitores", afirma o editor Abimael Silva. O conhecimento apurado e a erudição de Oswaldo Lamartine transformaram o sertão potiguar em pura literatura. Qualidade que se repete com maestria em "Os açudes". A descrição inicial do açude é pura poesia em prosa: "Espia-se a água derramando líquida e horizontal pela terra adentro a se perder de vista. As represas esgueiram-se em margens contorcidas e embastadas, onde touceiras de capim de planta ou o mandante de hastes arroxeadas debruçam-se na lodosa lama. O verde das vazantes emoldura o açude no cinzento dos chãos. Do silêncio dos descampados vem o marulhar das marolas que morrem nos rasos." CIÊNCIA E LITERATURA O autor entremeia dados históricos e aspectos técnicos dos açudes seridoenses com a habitual agilidade literária de sua escrita. Oswaldo rememora desde as raízes milenares deste tipo de armazenamento hidrográfico, até chegar aos primeiros séculos da colonização portuguesa no Seridó e as iniciais experiências na área. "Quem primeiro esbarrou a carreira das águas de algum córrego para, prisioneiras, delas tirar o seu proveito?", escreveu. Entre cacimbas e poços coloniais, há indícios desde o século XVIII, apesar de vestígios não confirmados. Açudes fora destruídos pela desertificação e cheias O relato segue então desde a época colonial, passando pelas secas do século XIX, até a lista dos açudes públicos construídos em cooperação com o DNOCS na região seridoense até dezembro de 1972. Segundo Abimael, o cenário descrito pelo livro é um registro do passado - assim como tantos outros que fascinavam o autor sertanejo. "Boa parte desses açudes não existem mais, foram destruídos pelas cheias, ou não resistiram à desertificação, e não mais reconstruídos", diz. Mas o que importa, ressalta ele, é o texto de Oswaldo Lamartine, capaz de cativar além da especificidade de seu tema. "A escrita dele é envolvente, Oswaldo era um estilista da palavra", diz. Próximos temas: Caça e conservação de alimentos Abimael Silva está com mais duas obras de Oswaldo no caminho da reedição. Ainda este ano virão "A caça nos sertões do Seridó" e "Conservação de alimentos no sertão do Seridó", dois registros históricos dos velhos costumes sertanejos que ficaram obscurecidos pela poeira do tempo. "O sertão descrito magistralmente por Oswaldo só existe nas obras dele e na memória dos velhos sertanejos, o que os torna ainda mais especiais", acrescenta. Oswaldo Lamartine de Faria morreu em Natal, aos 87 anos., em 2007. Ele costumava se definir como um "sobejo da seca de 1919 e caçula de uma ninhada de dez com o umbigo cortado na cidade de Natal do Rio Grande, em 15 de novembro daquele ano". Filho de Juvenal Lamartine de Faria, deputado, senador e governador do Estado (1928-1930), sertanejo e também escritor. A mãe, Silvina Bezerra de Faria, foi outro tronco da tradicional família seridoense. Descendiam dos povoadores daqueles sertões. Serviço: Lançamento de "Os açudes dos sertões do Seridó", de Oswaldo Lamartine. Sábado, de 9 às 12h, no Sebo Vermelho, Cidade Alta. Texto Tribuna do Norte

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