EU NOS ANOS 70 – AS REVISTAS EM QUADRINHOS

Nossa vida apresentava progressos significativos em termos de inserção social e econômica. Numa família de dez componentes (pai e mãe e oito filhos), já tínhamos deixado nossa condição de bóia-fria e contávamos com seis cabeças de vacas para garantir o sustento da casa. Além do mais três já se encontravam estudando. Eu com déficit de quatro anos em relação aos demais, mas feliz por vencer a resistência de meu pai que não queria me ver ainda na escola. Não porque não quisesse meu progresso, mas por necessidade de minha presença junto dele. O progresso também se refletia em outras formas laborais de ganhar meus trocados. Sempre tive dificuldades de pedir dinheiro ao meu pai para comprar alguma coisa que estivesse necessitando ou quando queria assistir a algum filme no Cine São Francisco, de Zé do Ouro. Quando essas carências de apoderavam de mim saía, após alimentar o gado, à procura de qualquer serviço extra como limpar o muro de alguma residência, consertar o telhado, juntar cacos de vidro, pedaços de cobre, garrafas usadas, enfim o que pudesse possibilitar suprir aquelas necessidades. Como falei, encontrei outras formas de ganhar meu dinheirinho. E a mais importante era a venda e troca de Revistas em Quadrinhos e Livros de Bolso (faroestes e espionagem), antes do início das sessões em frente ao Cine São Francisco. Vender e trocar revistas de Zé Carioca, Turma da Mônica e dos personagens Disney, como Pato Donald, Mickey, Tio Patinhas, Professor Pardal, Gastão e os sobrinhos Huguinho, Zezinho e Luizinho produziu uma evolução sem tamanho em minha vida e ajudou em muito minha inserção nos demais segmentos sociais. Mas tinha ele, o Almanaque Disney! A mais procurada e garantia de uma boa venda! O almanaque era a revista de melhor custo/benefício da praça. Além de se compor de mais histórias e mais variedades que as revistas normais, havia também uma seção de curiosidade que geralmente falava da vida de algum animal. Durante cinco dias da semana, ficava a cata de leitores que pudessem se desfizer de seus almanaques para comprá-las ou oferecer outras em trocas e até vender alguma, para chegar com um bom estoque nos sábados e domingos, no ponto de encontro dos revisteiros, onde o lucro era certo! E era pelo almanaque onde a concorrência mais acirrava. Mas para todo mundo! Não se via ninguém reclamar. E ainda era garantida a compra do ingresso para assistir ao filme que nossas idades se permitiam! E havia os Livros de Bolso de Histórias de Faroestes, direcionados a um público mais adulto! Histórias de mocinhos e bandidos e belas mulheres dançando can-can em Saloons, além de forasteiros misteriosos com sede de vingança! Seu Pazim Rangel e Homero eram meus fregueses mais contumazes. As séries Chumbo Grosso, Oeste Brutal e Colt 45 eram as mais barra pesadas. A qualquer piscar de olhos ou ofensa mínima, os revólveres saltavam do coldre e cuspiam dezenas de balas! Os mais brandos eram da série Coyote, de Trinity Figueroa e Miguel Chucho Santilana. E havia os de espionagem! E não posso esquecer-me de Gisele, A Espiã Nua Que Abalou Paris! A história de uma bela loura que atuava contra a ocupação alemã de Paris, durante a Segunda Guerra Mundial. Era um sucesso entre a garotada masculina no período duro da repressão, impedidos de liberarem suas testosteronas! Tempo bom aquele! Tempo de socialização! Tempo de encontros entre estratos sociais! Tempo de acúmulo de conhecimento! Tempo de afirmação de cidadania! Gilberto Costa

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